terça-feira, 18 de março de 2008

A mesma ladainha.

Quando ouço, Fade to grey, do Visage, tenho vontade de ser fashion.

Nada como uma passada no Bom Retiro, para atiçar nosso espírito consumista e fashionista.

Vitrines muito bonitas, me senti nos Jardins, muita coisa nova, graça a Deus acabou aquele festival de geometrias e estampas de azulejos de cozinhas setentistas.

Vejo muito glamour em dourados á lá D&G, preto e branco em casaquinhos, cintos e coletes á lá Chanel, tudo á lá.

Que vontade de chegar em casa e sair preenchendo folhas e folhas de sulfite com as diversas imagens que me vieram á cabeça. Olha o desejo aí de novo.

O que será que eu tenho contra uma folha de papel em branco?

Continuo meu manifesto anti-desenho iniciado ontem.

Não quero saber, as imagens me sufocam, como já tenho bronquite, não quero mais nada que me sufoque.

Vontade quase incontrolável de criar um look. Pensei num homem de calça marrom-claro, barra comprida por cima de um tênis bege, um agasalho preto, estilo moleton de zíper, bolsos frontais, alguma estampa pequena nas costas.

Ta vendo não preciso fazer o desenho, você já montou seu look, na sua cabeça. Eu insisto, desenhar é uma manifestação primitiva dos nossos impulsos criativos originados na mente espiritual, mas no mundo da matéria preciso me servir de um corpo dotado de mãos que possam realizar o trabalho pra mim.

Minha mente é mais rápida, até o desenho chegar na mão, eu já acabei na cabeça.


Depois de anos em luta com folhas de papel monstruosamente em branco, acabei mesmo percebendo que desenho não é o canal exato para a expressão do meu pensamento.

A palavra sempre foi minha amiga. O desenho foi meu adversário. A palavra era minha ferramenta. O desenho, meu vilão.

Tentei decifrá-lo, mas tudo que consegui foi me perceber indecifrável.

Não é muito mais bonito o jogo de sons que transmitem uma idéia e levam seu pensamento, suas emoções a lugares surpreendentes? A palavra tem o dom de criar qualquer desenho em nossa mente. Ilimitada. Uma folha de papel só comporta um desenho por vez

Por exemplo: vou lhe sugerir uma palavra.

Praia.

Viu? Imediatamente, sua imaginação criou uma imagem de uma praia com o toque da sua própria criatividade.

Pronto, acabo de descobrir que perdi o controle sobre as imagens de novo. Eu não sei como é a praia que você pensou...

Mas vou ter que me acostumar.

Gostava da idéia de dominação sobre a criação, a forma é minha, a cor é minha, eu desenho e faço o que eu quiser com uma imagem. Se usar uma palavra, posso exprimir exatamente o que quero. Mas a imagem em sua mente, não posso saber.

Mas fica aí o registro. De que entendi que sempre tive uma amiga ao meu lado a qual eu compreendo e serve á minha vontade, mas sempre gostei de andar com o menino mal, que não me deixava manipulá-lo, mas era dominado por ele.

Interessante, como pensamos que uma coisa é uma coisa, depois ela não é mais. Pior quando achamos que ela nunca foi, mas não temos certeza. Horrível viver na incerteza.